Malandragem é Linha de Força, Linha de Caridade, É Linha de Umbanda. Hoje ando na Linha... Sou Malandro, sou protegido por nosso Pai Glorioso Guerreiro São Jorge e pela energia de Ogum, com essa proteção levo a todos que me chamam a Segurança, a Paz e a Ordem... Sou Jogador, mas não jogo com isso, pois sei que com proteção não se brinca! Na Navalha, no Carteado, no Chapéu, no Dado, na Cerveja, na Ficha, no Cigarro e até no Terço que carrego, tenho minha Magia e meus Mistérios, mas levanta da Mesa e chora, quem não tem a Malandragem em seu caminho! Proteção, Paz e Luz de nosso Senhor aos Filhos de Umbanda... Salve a Malandragem!

Por Malandro Zé da Silva.

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sábado, 29 de junho de 2013

Zé Pelintra e a Malandragem – Origem e História




Tendo como base para esse capítulo o livro de Zeca Ligiéro, Malandro Divino, passaremos a abordar a figura central deste trabalho, Zé Pelintra.

Personagem bastante conhecido seja por freqüentadores das religiões onde atua como entidade, seja por sua notável malandragem, Seu Zé tem sua imagem reconhecida como um ícone, um representante, o verdadeiro estereótipo do malandro, ou porque não dizer, da malandragem brasileira e mais especificamente, carioca. Não raro, encontra-se pessoas que o conhecem de nome e pela malandragem, mas não sabem que este é uma entidade do Catimbó e da Umbanda; outras já o viram retratado inúmeras vezes, mas não sabiam que se tratava de “alguém” e também encontraremos os que o conhecem apenas como entidade e desconhecem sua origem e história, estes porém, menos freqüentes. O fato é que a figura de Zé Pelintra, de uma forma ou de outra, permeia o imaginário popular da cultura brasileira e é retratada de diversas maneiras. Por exemplo, como nos explica Ligiéro,
na década de 1970 Chico Buarque cria sua Ópera do Malandro. Para o cartaz do espetáculo teatral o artista Maurício Arraes utiliza a figura de Zé Pelintra mesclada aos traços faciais de Chico Buarque em um número típico de minstrelsy norte-americano, tal como protagonizado no teatro de revista e no cinema por Al Johnson [...] (LIGIÉRO, 2004, p. 142).

No início da década de 1990, o cineasta Roberto Moura lança Katharsis: histórias dos anos 80, com Grande Othelo no papel de Zé Pelintra, e este seria o último longa-metragem desse emblemático ator negro, lembra Ligiéro (2004). Até mesmo a figura de Zé carioca, personagem de Walt Disney teria sido inspirado em Seu Zé. Ligiéro conta a história:

Em 1940, Walt Disney fez uma viagem ao Brasil como parte do programa “política da boa vizinhança” criado pelo governo norte-americano – para pesquisar um novo personagem tipicamente brasileiro. Na ocasião, foi levado com sua equipe de desenhistas para conhecer a Escola de Samba da Portela. Naquela noite, a nata do samba reuniu-se, como fizera alguns anos antes com a visita de Josephine Baker ao Rio de janeiro. Lá estavam as figuras mais importantes do mundo do samba – Cartola, Paulo da Portela, Heitor dos Prazeres… Conta-se que foi Paulo – falante e elegante – quem realmente impressionou Walt Disney e o inspirou a criar o personagem Zé carioca. Na ocasião o sambista não estava todo de branco, tinha apenas o paletó nessa cor, mas foi o suficiente, pois essa peça passou a ser a marca de Zé Carioca [...] (Ibidem, p. 108).

E mais adiante:

O Zé Carioca do Disney, que passou a ser um símbolo do Rio de janeiro e do próprio Brasil no exterior, fuma charuto e tem um guarda-chuva que ele maneja como uma bengala. Parece que quem esteve na Macumba da Mãe Adedé foi Walt Disney, e não Josephine Baker, e que lá viu o Zé Pelintra incorporado, pois a maneira gingada de andar e o jeito irônico de seu personagem foram realmente captados da alma do nosso malandro. É difícil acreditar que ele não soubesse também que o papagaio é um dos animais consagrados a Exu (Ibidem, p.109).

Seu Zé está sempre representado seja em figuras desenhadas, seja em estatuetas, de terno branco – de linho e, veremos que provavelmente para a malandragem não era à toa, segundo Ligiéro (2004) – chapéu de palhinha com uma faixa vermelha contornando-o, gravata vermelha e sapato bicolor. Essa é sua representação na Umbanda, o típico malandro – figura que possivelmente ganhou esse estereótipo à partir da figura de Zé Pelintra.

O terno de linho branco tornou-se o símbolo do malandro por ser vistoso, de caimento perfeito, largo e próprio para a capoeiragem. Para o malandro, lutar sem sujá-lo era uma forma de mostrar habilidade e superioridade no jogo de corpo. Ao contrário dos executivos de sua época, que tentavam imitar os ingleses, o malandro não usava casimira, tecido pouco apropriado para o clima úmido dos trópicos. Seu Zé destacava-se pela elegância e competência como negro [...].

Numa época em que os negros e brancos viviam praticamente isolados, apesar da existência de uma numerosa população mestiça nas grandes cidades brasileiras, vamos observar que a figura do malandro torna-se representativa da dignidade do negro deixando para trás a idéia de um negro “arrasta-pé”, maltrapilho ou simples trabalhador braçal (Ibidem, p. 101-2).

Porém, sua representação no Catimbó é um pouco diferente.

De pés descalços e calça dobrada até o meio da canela e eventualmente, como aponta Ligiéro (2004), uma peixeira é retratada em sua outra mão ou junto a seu corpo. Um pano vermelho amarado no pescoço é sua marca nessa religião e o chapéu de palha com a fita vermelha contornando-o é característico tanto na Umbanda quanto no Catimbó embora o tipo do chapéu seja diferente. Mas afinal, qual a origem de nosso personagem?

Seu Zé torna-se famoso primeiramente no Nordeste seja como freqüentador dos catimbós ou já como entidade dessa religião. Conforme Ligiéro (2004), “o catimbó insere-se num quadro nacional de religiões populares provenientes do Norte e Nordeste, relacionando-se com a pajelança indígena e os candomblés de caboclo muito difundidos na Bahia”.

Conta-se que ainda jovem era um caboclo violento que brigava por qualquer coisa mesmo sem ter razão. Sua fama de “erveiro” vem também do Nordeste. Seria capaz de receitar chás medicinais para a cura de qualquer male, benzer e quebrar feitiços dos seus consulentes.

Já no Nordeste a figura de Zé Pelintra é identificada também pela sua preocupação com a elegância. No Catimbó, como já dito, usa chapéu de palha e um lenço vermelho no pescoço. Fuma cachimbo, ao invés do charuto ou cigarro, como viria a ser na Umbanda, e gosta de trabalhar com os pés descalços no chão.

De acordo com Ligiéro (2004), Seu Zé migra para o Rio de janeiro onde se torna nas primeiras três décadas do século XX um famoso malandro na zona boêmia carioca, a região da Lapa, Estácio, Gamboa e zona portuária. Nessa época, período de desenvolvimento urbano e industrial, a vida da população afro-descendente foi profundamente transformada. Havia um fluxo migratório intenso de sertanejos em direção a capital nacional em busca de melhores condições de vida. Nascem as primeiras favelas empurrando para os morros os migrantes dos antigos cortiços derrubados para a Reforma Passos.

Nesse contexto, Seu Zé poderia ter conseguido fama como muitos outros, pela sua coragem e ousadia obtendo aceitação pelos que se encontravam em situação como a sua. “Contam alguns que Seu Zé era um grande jogador, amante da vida noturna, amigo das prostitutas, exímio capoeirista, sambista de rara inspiração, um verdadeiro bamba”, acrescenta o autor.

Quanto a sua morte, autores descordam sobre como esta teria acontecido. Afirma-se que ele poderia ter sido assassinado por uma mulher, um antigo desafeto, ou por outro malandro igualmente perigoso. Porém, o consenso entre todas essas hipóteses é de que fora atacado pelas costas, uma vez que pela frente, afirmam, o homem era imbatível.





Acontece com Zé Pelintra um processo inverso ao que aconteceu com outros famosos malandros. Muitos destes foram esquecidos ou enterrados como indigentes. Foram lendários para uma geração. Entretanto, com o passar do tempo acabaram sendo esquecidos. “Para Zé Pelintra a morte representou um momento de transição e de continuidade”, afirma Ligiéro, e passa a ser assim, incorporado à Umbanda e ao Catimbó como entidade “baixando” em médiuns em cidades diversas que nem mesmo teriam sido visitadas pelo malandro em vida como Porto Alegre ou Nova York, por exemplo.


Sobre a questão da filosofia do malandro, Ligiéro (2004) lança a pergunta: “Existe uma ética própria, ou o malandro é o precursor da apregoada ‘lei de Gérson’, de obter vantagem em tudo sem dar a mínima para o outro?”. E cita um pequeno trecho do artigo de Augras para poder então, debater a questão com a autora citada:

O fingimento, o ardil, a astúcia parecem constituir características de Zé Pelintra. [...] Tudo nele é jogo, e jogo trapaceado. [...] Ele volta como entidade na Umbanda-Quimbanda para mostrar a universalidade da lei da malandragem. Tudo é trapaça, engodo, traição. [...] É assumidamente ladrão, trapaceiro e marginal. Situa-se nos interstícios do poder institucional. Sua lei é driblar a lei (Augras 1997 apud LIGIÉRO, 2004, p.104).

“A forma como Augras configura a malandragem de Zé Pelintra o desnuda completamente de princípios éticos e morais – trata-se de um burlador embusteiro”, aponta Ligiéro (2004). Porém, não nega que a visão da autora esteja totalmente errada quanto a “lei da malandragem”, mas propõe “uma leitura que vá além da sua função psicológica ou meramente reguladora em termos sociais” – conclui.

Acredito que o malandro não deva ser dissociado de uma cultura carioca desenvolvida nas primeiras décadas do século XX que se articulava com o mundo das escolas de samba, do divertimento noturno, do jogo do bicho, da capoeiragem e da própria Macumba – atividades proscritas e constantemente perseguidas e combatidas pela polícia da antiga capital da República. Os integrantes desse seleto grupo de negros e mestiços [...] naturalmente oprimidos e maltratados como os demais, trabalhavam como músicos ou mesmo artistas de circo, no teatro de revista, no rádio, e até no cinema da chanchada em seus primórdios. Disputaram um jogo social em que eram intermediários entre a sua comunidade negra e pobre e a elite euro-brasileira que controlava a política, a indústria dos discos e do divertimento e os meios de comunicação (LIGIÉRO, 2004, p. 105).

Pensar além do que Augras pensou é não descontextualizar a figura do malandro da imagem de seu ambiente em sua época, é notar que esse personagem, o malandro, não é ou foi a-histórico e conseqüentemente, entendê-lo como ser construído por uma sociedade que ele também ajuda a construir, ou seja, um ser sócio-histórico como qualquer um de nós.


Fonte: Dissertação de Igor Macedo Fernandes

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Homenagem do Walt Disney aos Malandros Cariocas

AQUARELA DO BRASIL. É um curta metragem americano de animação da Disney lançado em 1942. E mostra pela primeira vez o personagem Zé Carioca, criado especificamente para o filme "Saludos Amigos" o sexto longametragem de animação dos Estúdios Disney e faz parte do último segmento do filme. O desenho mostra o Zé apresentando o samba e a cachaça ao Donald que está visitando o Brasil. Pra desenvolver o "curta" os desenhistas da Disney viajaram até o Rio de Janeiro, inclusive o próprio Walt Disney esteve no Brasil. A produção do desenho está relacionada com os esforços dos Estados Unidos para reunir aliados durante a segunda guerra mundial (1939-1945), esforço esse conhecido como "política da boa vizinhança". (Fonte wikipédia)

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